A Rede Globo é a segunda maior emissora do mundo. No Brasil, é de longe a que possui a melhor equipe e os melhores recursos, além de ter o maior alcance por todo o território nacional. Por tudo isso, é tida como referência em jornalismo e entretenimento. Porém, não é a única. Ou não deveria ser a única. Na era multimídia, em que a internet alcança grandes proporções e temos tantos canais esportivos, depender exclusivamente da emissora é, até certo ponto, perigoso.
Na Paraolimpíada 2016, a primeira na América do Sul, muitos reclamaram da pouca visibilidade que o canal carioca dá ao evento face a Olimpíada disputada há menos de um mês. As críticas são injustas e deveriam ser direcionadas a outros motivos, que não só apenas a Globo exibir ou não.
É importante ressaltar que o canal dos Marinhos é o único entre os considerados grandes do país que aceitaram cobrir o evento. Todas as outras (incluindo Record e Bandeirantes, que transmitiram a Olimpíada 2016), desistiram de mostrar os Jogos além da cobertura jornalística. Mesmo assim, a Paraolimpíada deste ano já é a com maior cobertura televisiva no Brasil.
A Paraolimpíada possui um comitê próprio e é um evento paralelo às Olimpíadas. Os números de participantes, países e modalidades são menores. E a audiência em todo mundo também é bem inferior aos Jogos Olímpicos (este, aliás, é o evento esportivo mais assistido do planeta). Assim, é compreensível que a cobertura seja menor. Não que os atletas mereçam menos atenção. Muito pelo contrário. Mas julgar a forma de como a imprensa cobre este evento comparando-o com a Olimpíada é um pouco exagerado. Em 2016, serão 7 canais brasileiros dedicados a cobertura (três em TV aberta - sendo que dois estão transmitindo diversas modalidades ao vivo).
Afinal, não é só os atletas paraolímpicos que sofrem com esta falta de visibilidade. Com exceção do futebol e os grandes clubes dos centros do Brasil, quase todos os outros esportes não tem o mesmo destaque na tela da TV. E isso, como já afirmamos em #OAlanbrado, é um problema da falta de cultura esportiva do país, que começa na escola. Porque, mesmo com os olhares dos torcedores durante tanto os Jogos Olímpicos quanto os Paraolímpico estarem ligados nos atletas e esportes, essa atenção sai de cena ao fim das disputas.
O governo deve incentivar também que novos atletas surjam, investindo no esporte em todas as idades. Assim, criamos, além da cultura esportiva, atletas e campeonatos fortes.
Paraolimpíada sucesso de público
Dados mostram que o número de ingressos vendidos para a Paraolimpíada superou as expectativas e já é a segunda maior em tíquetes vendidos na história paraolímpica, superando Pequim-2008. Londres-2012 segue sendo a Paraolimpíada que mais vendeu ingressos.
O carioca, embalado pelo clima olímpico, prestigia os paratletas, independente se a Globo passa ou não os Jogos. E é assim que deve ser. Emoção vai além de interesses do que passa apenas em um canal.
Cobertura em rede nacional na TV aberta e fechada
Na Olimpíada, foram no total 25 canais dedicados a cobertura. Na Paraolimpíada, o número de canais licenciados para a transmissão é menor. São, no total, 7 canais.
Na TV fechada, o SporTV é o único a transmitir, com seus quatro canais. Dele, o canal '2' será dedicado prioritariamente as transmissões do evento, além de programas especiais. Ao mesmo tempo, os outros três também terão algum tipo de cobertura ao vivo do Rio de Janeiro.
Na TV aberta, a Globo terá um programa especial no final de noite dedicado aos Jogos. Durante a programação e nos telejornais da emissora, será feitos resumos do que acontece. Não é o ideal, mas já é alguma coisa, comparado ao que jamais havia sido feito em cobertura brasileira da Paraolimpíada. Em compensação, a TV Brasil e as emissoras educativas que compõe a ABEPEC (Associação Brasileira das Emissoras Públicas, Educativas e Culturais) por todo o país, transmitem mais de 10 horas diárias dos eventos paraolímpicos.
Ainda, a TV Cultura, em meio a um imbróglio envolvendo a EBC, conquistou junto à TV Globo o direito de imagens para transmissão da Paraolimpíada. Por divergências políticas, o presidente da EBC não quis assinar de imediato a liberação da TV Cultura.
Bancada pelo Governo Federal, TV Brasil é a TV pública que ninguém vê
É uma pena que, nas redes sociais, há os que desdenham da TV Brasil. Não que o canal deveria ser líder de audiências, mas o dinheiro investido nela e nos componentes da Empresa Brasil de Comunicação, a EBC, deveria alcançar pessoas em todo o território brasileiro, o que, pelas mensagens na internet, não acontece.
A TV Brasil surgiu com o intuito de ser a "BBC brasileira", oferecendo uma TV pública com conteúdo de qualidade e de graça. Em 2016, é a TV aberta que mais exibe a Paraolimpíada ao vivo. Noventa por cento do território brasileiro tem cobertura da Rede Pública de Televisão. Por que esse fato é ignorado pelos que criticam a ausência da Globo?
Aí que está o problema: as pessoas imaginam que só existe a Globo, por isso toda a cobrança nela. Mostrando que aquilo que o governo vem fazendo para incentivar o crescimento da TV Brasil não está dando certo e, consequentemente, joga dinheiro fora.
As mensagens nas redes sociais dão razão aos que pedem o fim da TV Brasil. Após o impeachment de Dilma Rousseff, o novo governo fez mudanças na estrutura do canal, o que gerou revolta.
Os brasileiros, em vez de reclamar da Globo, deveriam saber que há canais transmitindo ao vivo a Paraolimpíada.
Ser uma alternativa justa e com conteúdo nacional, levando cultura, informação e expandindo a educação pelo Brasil. É essa a missão de uma TV pública. Caso as pessoas continuem a ignorar a TV Brasil, não há motivo para mantê-la.
O sucesso não depende da Globo
São inúmeros os exemplos de produtos que deram certo fora da Globo. Se há problema em manter um nível de qualidade fora da emissora carioca, é um problema de gestão dos outros canais, que, ao ver um conteúdo com potencial, o despreza assim que a audiência diminui.
Como acontece com o futebol feminino, por exemplo, em que na Olimpíada e em Copas do Mundo tem grande apelo e já lotou o Pacaembu em torneios de futebol organizado pela TV Bandeirantes. Os jogos da Libertadores e Copa do Brasil feminina é exibida tão somente em TV fechada, e é deixada de lado por quem outrora incentivava.
A própria Band tem seus bons exemplos. O Mundial de 2000, em que o Corinthians sagrou-se campeão, é até hoje a maior audiência da emissora paulistana. O canal poderia passar os Jogos Paraolímpicos, mas pela sua má administração que abandonou o projeto esportivo, já não dá mais para pensar e esperar por boas coisas vindas de lá.
Outro bom exemplo de que "existe vida além da Globo" é o UFC, que a RedeTV! popularizou e foi a primeira a exibir em TV aberta, além de trazer o evento para o país. Vendo o sucesso, a Globo comprou os direitos e hoje faz a cobertura exclusiva do evento.
Ainda, o Brasil é o terceiro maior público da NFL em todo o mundo (só perde para o México e para os próprios norte-americanos). Por aqui, o evento é exibido pelos canais ESPN e Esporte Interativo. Na Globo, a exceção do resultado do Super Bowl, pouco se fala do torneio de futebol americano (e quando é citado, geralmente é para falar da "violência" e "brutalidade" do esporte). Nem por isso os fãs da modalidade reclamam.
A paixão pelo esporte da bola oval vem desde os anos 1990, com a TV Bandeirantes estreando a novidade.
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Enfim, que a Paraolimpíada e todo este clima olímpico sirva para os brasileiros darem atenção aos demais esportes. Temos cinco grupos que possuem canais esportivos no país (SporTV, ESPN, Fox Sports, BandSports e Esporte Interativo). Há muito conteúdo para ver. Cabe aos governantes investirem cada vez mais na prática esportiva e os brasileiros seguirem acompanhando e prestigiando as disputas.
Continuemos torcendo por nossos atletas que fazem um brilhante trabalho. Com Globo ou não, prestigiar os Jogos nas arenas ou pela TV é possível. Força, Brasil!
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