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Imprensa deixa automobilismo de lado

O assinante da Folha de S. Paulo reclamou na seção Painel do Leitor do jornal na terça-feira pós GP do Canadá de Fórmula 1: como o maior jornal do país não dá sequer uma linha em seu caderno de Esportes sobre o GP que aconteceu no fim de semana anterior? A falta de interesse da imprensa brasileira nesta prova e o desconhecimento geral das pessoas pela realização da corrida é uma das evidências de como a F1 perdeu seu brilho. Não só no Brasil, mas também em todo o mundo. 

O GP do Canadá - realizado no final de semana do dia 12 de junho - deixa claro ainda mais essa nova tendência na imprensa brasileira, que é tratar com indiferença a principal categoria do automobilismo mundial.

No Brasil, os direitos de transmissão da corrida pertencem há mais de 40 anos à TV Globo, que repassa ao SporTV (seu canal esportivo na TV fechada), as íntegras da corrida e treino classificatório do sábado, além dos treinos anteriores ao vivo (como o treino de sexta). Citando este GP como exemplo, a emissora optou por não transmiti-lo, causando revolta nos fãs da modalidade. Já tem algum tempo que a Fórmula 1 vai perdendo espaço na grade da emissora global. 

Por esta decisão, um texto com um início fantástico escrito por Victor Martins, do portal Grande Prêmio (um dos principais espaços sobre automobilismo no Brasil), chamou a atenção de muita gente. O texto que fala sobre a decisão da Globo de não exibir nada do GP do Canadá começa com a chamada do filme que a emissora optou exibir no lugar de mostrar, pelo menos, a largada.



EFE
É bom dizer que a Fórmula 1 não perdeu fãs. Seria radical dizer isso. O problema maior, no caso, é a forma como a imprensa está tratando este produto tão importante e que ainda possui relativo apelo publicitário. Tanto que a TV Globo vende todos os anos todas as cotas de patrocínio.


A única "baixa" comparado às marcas que anunciaram nos últimos anos foi a Petrobras, que, em meio a problemas de gestão e políticos, desistiu de anunciar na temporada. Itaipava, Renault, Santander, TIM, Unilever e ZAP Imóveis (esta pertence ao Grupo Globo), têm suas inserções na cobertura da Globo da F1 2016.

Audiência desanimadora

No mundo da televisão - na busca frenética por audiência - as emissoras costumam deixar de lado a qualidade, para partir para o 'tudo ou nada' para não perder espectadores. A forma como a TV Globo passou a tratar a F1 nos últimos anos deixa claro que a emissora não está contente com os dados vindos da F1 (em alguns momentos, a emissora já chegou a ficar em terceiro no ranking de audiência, atrás de SBT e Record).

Mas não dá para colocar toda a culpa na F1. É uma tendência lógica essa queda de audiência. O próprio futebol passa por sua crise. O novo comportamento do público - em meio às novas tecnologias - fazem com que os diretores de TV pensem em como amenizar os dados ruins e manter os anunciantes. Novelas, telejornais, a venda dos jornais impressos... a audiência cai de igual maneira.

Falando da Fórmula 1, as audiências dos domingos de manhã na frente da TV de pessoas ligadas nas corridas acompanham a queda de competitividade e a falta de grande ídolos na briga pelas primeiras posições. Levantamento feito pelo portal UOL, por meio do colunista Ricardo Feltrin, traz dados interessantes no Brasil. Analisar os números friamente é perigoso. O melhor para ver no caso é o chamado 'share' - que é a participação percentual da emissora na audiência.

De 2002 a 2004, a cada dez TVs em São Paulo ligadas durante Grandes Prêmios de  F1, mais da metade estavam ligadas na Globo acompanhando as corridas (ou seja, mais de 50% de TVs ligadas na emissora). De 2005 a 2009 este índice ficou na casa dos 40%. Houve queda em todos os anos, a exceção para 2008, temporada marcada pelo vice-campeonato de Felipe Massa, que perdeu o título na última volta do último GP (em Interlagos) para o inglês Lewis Hamilton.

Nos demais anos, o número só diminui. Em 2015, o share ficou em 23,9%. A cada dez TVs ligadas, pouco mais de duas estão na TV Globo. O restante (quase oito) divididos entre as demais emissoras.

Audiência consolidada: mudança de comportamento

Em compensação, um fato interessante traz um paradoxo curioso. O Brasil é o país com maior audiência da Fórmula 1 no mundo. Os dados são de 2013. No ranking global de audiência divulgada pela Formula One Management (FOM), o Brasil teve 77 milhões em audiência no ano. Seguido por Itália, Alemanha e Espanha (estes na casa dos 30 milhões).

Ou seja, há público no Brasil. As pessoas precisam ter acesso de qualidade e conteúdo para continuar acompanhando. Basta ver como ficam as redes sociais durante os GPs (o Twitter em especial). A quantidade de mensagens sobre as provas são muitas. Demorou para a organização da F1 dar uma olhada especial para este público que fica menos na frente da TV e se conecta ao mundo virtual para se informar.



Isso é provado também pelas pesquisas feitas no Google ao passar da última década. No Brasil, os dados se mantém semelhante; a exceção - como na audiência da Globo acima -é a temporada 2008, em que havia um brasileiro com reais chances de título.

 

A 'queda' em determinados períodos se refere ao período sem Fórmula 1 (dezembro a fevereiro). Os picos, os finais de temporada. 

No mundo, os números também permanecem parecidos. 

TV fechada x TV aberta x Novas Tecnologias

A "solução" (quase que inevitável para os próximos anos) é que o fã da velocidade da categoria migre completamente para a TV paga. Coisa que já acontece mundo afora. Apenas dez países transmitiram a temporada 2015 em TV aberta. Alguns, apenas a metade da temporada (como a Inglaterra e Espanha, por exemplo).

No Brasil, esse processo pode demorar a acontecer por uma série de fatores. Enquanto que nos Estados Unidos há uma parcela da população considerável com TV por assinatura, no nosso país os que assistem apenas a TV aberta tem ainda um alcance maior. Além disso, até 2020, pelo menos, a Rede Globo assegura que irá transmitir a competição (há multas altas caso seja descumprido o mínimo necessário de provas exibidas).

Os chefões da F1 duvidavam da força das mídias sociais. Isso, aos poucos, vai mudando. Inclusão de hashtags convidando os fãs do esporte a participar da conversa mundial foi um pequeno (mas importante) incremento as transmissões. Além disso, aplicativo oficial e detalhado traz interação instantânea com o público.


Atualmente, segundo a FOM, a Fórmula 1 alcança mais de 200 países em todo o mundo.

Espectador impaciente e corridas sem competitividade

Mas há alguns fatores a também serem considerados. As pessoas de um modo geral (não considerando o fanático por velocidade) não tem mais costume de ficar por duas horas vendo uma corrida com poucas ultrapassagens, com carros iguais ou com aquele que larga muito na frente (os campeões com muita antecedência). Além disso, no Brasil, a falta de um compatriota disputando o título ajuda a piorar este quadro (não é o fato principal, diga-se). Isso é tendência também nas cidades onde os GPs são organizados, em que a carga de ingressos não são vendidos por completo.


Não existe só futebol

É equivocado pensar que a audiência e a repercussão da F1 terem diminuído se deve, no Brasil, única e exclusivamente a falta de um brasileiro no topo. Afinal, como dissemos no início, é uma tendência mundial. O regulamento da competição não ajuda e o tratamento da mídia com a modalidade faz com que as conversas do dia a dia sejam influenciadas a justamente ao que está em alta.

Na verdade, este é um problema da imprensa em geral, que pensa que apenas o futebol existe como esporte e o resto é, simplesmente, o resto. Isso, obviamente, é lamentável, principalmente para um país preste a sediar os Jogos Olímpicos.

O futuro

Uma pesquisa lançada no ano passado chama a atenção para alguns pontos. O que o público quer da F1. Em cinco anos, os conceitos positivos da categoria foram substituídos pelos negativos "cara" e "chata". O público não enxerga competitividade na F1. Pudera, antes, ganhava-se uma corrida "na mão". Apesar da qualidade do piloto ainda ser imprescindível, a impressão que se tem é que as máquinas são praticamente iguais; não há disputa.

Falta estar mais próximo do fã. Não ser rigoroso quanto as imagens na internet, fazer ações que tragam essa interatividade para junto da marca e fazer com que as pessoas não percam a paixão pela F1.

Uma das notícias positivas envolvendo marketing foi a chegada da cervejaria Heineken entre os apoiadores da competição. Por que isso é positivo? Vide o que a marca faz com a UEFA Champions League, é de se esperar que ações grandiosas agitem as redes sociais.


Mudar o comando para alguém com ideias mais jovens e abertas para o novo. Aproveitar todo o charme da marca e investir no público das redes sociais é um caminho. Além da acessibilidade e formar um campeonato mais competitivo.

Por parte da imprensa, tratar os assuntos de maneira e importância que merecem. No Brasil, apenas o Grupo Bandeirantes transmite as corridas pelo rádio. Além disso, nas viagens internacionais, apenas a equipe da Globo marca presença. Outra tendência do jornalismo: confiar no material das agências e não mover-se para fazer cobertura própria.

Não é aceitável uma Folha de S. Paulo não dar as informações de resultado, a tabela de pilotos e classificação ou apenas uma pequena nota da realização de alguma corrida. Isso não deve ser feito com o pretexto de que as informações estão disponíveis no site. Quem compra o jornal, o lê justamente para estar suficientemente bem informado.

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