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Que várzea!

Sábado de manhã. Ia andando para um compromisso fora de casa. No meio do caminho algumas pessoas. Ao longe, ouvia-se alguns poucos gritos de incentivo. Teria, mais a alguns minutos, uma partida de futebol.

Um time de vermelho contra um de branco. Fazia muito calor.

Parei por alguns instantes.

Correndo junto aos jogadores, uma figura de árbitro. Nitidamente acima do peso, o apitante tentava acompanhar a bola, sem muito sucesso, afinal, a falta de técnica não ajudava para um jogo lá muito centrado. A bola ia de um lado para o outro, gerando momentos cômicos, para 'tristeza' daqueles que exaltam a qualidade e o "bom futebol".

Afinal, o que seria o "bom futebol"? O que os especialistas julgariam como uma boa partida? O futebol europeu? É, talvez não. Apesar dos bons gramados, dos altos salários e dos estádios de primeiro mundo, o "bom futebol", que representa o esporte em sua essência, é aquele jogado com amor, raça, suor e comprometimento. Aquele que o torcedor joga junto. Qual a graça de torcer para um time que vence sempre de goleada, que disputa um campeonato desigual? E, pior, o torcedor que fica direto no seu smartphone vendo as notícias do dia, sem se importar, na arquibancada, com seu próprio time.

Rodrigo Campos/UOL/Copa Kaiser
O jogo, num campo de terra, estava acirrado (ou parecia estar). Fora de campo, menos de 20 pessoas, gritavam, cornetavam e, com as mãos juntas implorando por coisas boas, acompanhavam o embate. Não havia cobrança de ingresso. Qualquer cidadão que passasse pelo local, diminuía o passo (ou parava por alguns instantes), via um atacante chutando a bola para longe do gol, ria (ou balançava a cabeça reprovando a jogada) e ia embora.

E eu também precisava ir embora. Não pude ficar muito tempo. Na verdade, não era algo inédito. Todo final de semana o pessoal do bairro se reúne para jogar um torneio local. Já eu, que não sou muito de sair de casa, fiquei com vontade de ficar o jogo inteiro. Por timidez e por estar atrasado, segui meu caminho. E o jogo também seguiu.

As histórias envolvendo os campos de terra por todo o país no quase centenário futebol de várzea são muitas. Deve haver histórias ruins, de corrupção, ameaça e tudo mais. Um ex-árbitro, hoje comentarista esportivo, comentou uma vez que foi apitar um jogo numa cidade que, no dia anterior, haviam matado um árbitro em uma discussão futebolística. O negócio é sério.

Mas o futebol de várzea está presente na vida de quem gosta de futebol. Em 2006, acompanhei uma final que tinha no bairro que eu morava. Foi uma experiência incrível. Os batuques, os cantos, a festa das pessoas foi coroada com uma partida emocionante. E o melhor: foi para os pênaltis. Grande momento!


Apesar da falta de técnica, o que chama a atenção é justamente a paixão das pessoas. Vem a pergunta: Como aqueles que estão em campo, correm para a partida "mais importante da sua vida", mesmo sem ganhar muito ou mesmo sabendo que o futuro não é nada positivo em relação a carreira? E é isso que falta no futebol profissional que acompanhamos pela TV. Nossos "ídolos" trocam de camisa toda hora. Não correm. São agenciados por grandes empresários. Vivem rodeado de algazarra, festas e não ligam para o torcedor. Pejorativamente, "várzea" é usado no sentido ruim, para depreciar algo; coisa considerada desagradável.

Então, nesse sentido, o futebol "de várzea" não é tão várzea (ou também seja, mas não como um todo). Várzea é um calendário profissional horroroso. Várzea é jogos acabando na madrugada, tarde da noite. Várzea são dirigentes corruptos e ditadores comandando o futebol. Este futebol que seguimos, gastamos nosso tempo.  Nossas quartas-feiras e tardes de domingo. E aí chegamos a conclusão que este sim é muita várzea.

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